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"Paraísos Artificiais" - Charles Baudelaire

UM COMEDOR DE ÓPIO



I

PRECAUÇÕES ORATÓRIAS

"Ó justo, sutil e poderoso ópio! Tu que ao coração do pobre como do rico, Às feridas que não cicatrizarão jamais e Às angustias que induzem o espírito À rebelião, trazes um bálsamo suavizante; eloqÜente ópio! Tu, que por tua poderosa retórica, desarma as resoluções da cólera e que, por uma noite, devolves ao homem culpado as esperanças de suas juventudes e suas antigas mãos puras de sangue; que ao homem orgulhoso, dás um esquecimento passageiro dos erros não redimidos e dos insultos não vingados; que convocas as falsas testemunhas ao tribunal dos sonhos, para o triunfo da inocência imolada; que confundes o perjúrio; que anulas as sentenças dos juízes iníquos, constróis no seio das trevas, com os materiais imaginários do cérebro, com uma arte mais profunda que a de Fídias e Praxíteles, cidades e templos que ultrapassam em esplendor BabilÔnia e Hekatompylos, do caos de um sono cheio de sonhos evocas À luz do sol os rostos das belezas enterradas desde há muito, e as fisionomias mais familiares e benditas, limpas dos ultrajes do túmulo. Só tu dás ao homem tais tesouros e possuis as chaves do paraíso, ó justo, sutil e poderoso ópio!"


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